"Essa raça de estudante"

Yane Guadalupe relata o caso que aconteceu há cerca de duas semanas com ela, no bairro Clélia Bernardes,

"Depois de uma festa fui deixar uma amiga na casa da amiga dela. Não cheguei nem a estacionar o carro, só parei pra ela descer. Ela estava gravando snap quando um cara bate muito forte no vidro do meu carro, no lado do carona: meio que "esmurrando" o vidro. Achamos que era assalto e logo abrimos o vidro. Estava eu e mais suas amigas no carro. O cara já deu um murro no braço na minha amiga que estava no banco da frente e o celular que ela estava segurando foi parar longe. Nisso já sai fechando rapidamente o vidro. 

O cara tinha reclamado que o som estava alto, mas não estava porque detesto música alta e também já estava tarde. Nisso, destravei o carro para que a menina que estava atrás pudesse sair. Ela saiu do carro e o cara ficou chamando a gente de puta, de piranha, de "essa raça de estudante". Minha amiga começou a discutir com ele devido aos xingamentos que ele estava nos deferindo quando ele foi pra cima dela pra bater nela. Eu e minha outra amiga ainda estávamos no carro e dei uma buzinada bem longa pra ele assustar e dar tempo dela sair. Nisso, ele enfiou na frente do meu carro e foi em direção a minha porta. Fiquei tranquila porque ela sempre fica travada, mas esqueci que tinha destravado pra minha amiga sair e não tinha travado de novo. 

Nisso o cara abriu a porta do meu carro e tentou tirar a chave da ignição. Eu a menina que estava na frente ficamos segurando a chave. Foi então que ele me puxou pelo cabelo pra fora do carro, começou a me bater muito: tapa, murro, até que me jogou no chão e ficou me chutando. Então veio um menino que estava na rua e tentou segurar o cara. Falei pra minha amiga ligar para a polícia, porque meu celular estava com ela. Quando ela foi ligar o cara que me bateu, entrou no meu carro, tirou meu celular da mão dela. Teve uma hora que ele deixou cair no chão e o menino que segurou o cara que me bateu me entregou o celular. 

Novamente o cara me agride, pela meu celular da minha mão e joga no meio da rua. Resultado: celular quebrado. Nisso a polícia chega, uma menina que estava pegando um táxi quando ele já estava me batendo e viu tudo, encontrou com a polícia do caminho. A polícia já estava ali perto e chegou ao local. Os policiais começaram a falar que estávamos embriagadas, tratou o cara que me agrediu super bem, me induziu a não fazer ocorrência, dizendo que eu teria que ir pra Ubá, já que era de madrugada. Pediu ao namorado de uma das nossas amigas que estava lá embaixo pra controlar as mulheres, porque estávamos "exaltadas", num tom muito sacana. Quando começou a confusão, várias pessoas desceram dos prédios ao redor e apareceram nas sacadas.

No BO, o policial distorceu o meu relato e o da minha amiga, nos liberou junto com o cara que me bateu, e ainda me falou assim "coitado do cara, ele é um trabalhador. Tem que abrir a padaria dele agora". E nem levou a gente até o meu carro, porque na hora eu não estava em condições de dirigir e fomos no carro da polícia.

Pelo que eu entendi, parece que antes de eu chegar, tinha um carro branco com uma mulher dirigindo que estava com o som alto. Teve gente falando que o cara já tinha pedido pra tal pessoa abaixar o som três vezes e a pessoa não abaixou. Parece que essa tal mulher e o cara já tinham discutido quando ele ainda estava na sacada da casa dele. Logo quando chegamos, tinha um carro branco, e o meu também é branco, com som alto, saindo de frente do prédio, parou na esquina logo à frente, e uma mulher desceu. Imagino que tenha acontecido um engano. Entretanto, de maneira nenhuma, mesmo que eu estivesse com o som alto, justifica o cara me bater. Os vizinhos e a maioria das pessoas que estavam lá, ficaram falando que eu merecia ter apanhado, que ele devia ter me batido mesmo, que "esses estudantes sempre fazem bagunça", teve um cara que falou que se fosse a filha dele tinha que apanhar também. Muita gente apoiando o cara, me chamando de puta e piranha, falando que ele é um pobre trabalhador que não estava conseguindo dormir direito porque "eu" estava fazendo baderna. Teve até mulher dizendo que eu tinha que apanhar mesmo.

Fizemos o BO, mas não precisou ir pra Ubá. Era pra o cara ter sido preso, porque foi flagrante. Mas para "dar" o flagrante teria que ter ido pra Ubá, porém o policial é o delegado "acharam" que não precisava. Porque o cara que me bateu, disse que só me bateu porque eu o intimidei, (não sei como), e disse também que eu bati nele (sei menos ainda como seria possível).

A pior sensação do mundo foi ter que fazer corpo de delito no hospital e no dia seguinte meu filho, de três anos, me perguntando quem tinha me batido. Ele pegou gelo, enrolou na fraldinha dele e colocou no meu rosto, assim como faço com ele quando ele se machuca. Isso já tem duas semanas, minha mandíbula ainda essa com um inchaço, ainda não consigo comer coisas duras ou abrir a boca direito. Até pra bocejar dói. Meu bumbum também está doendo das injeções que tive que tomar pra dor. Vou processar o cara pra ele aprender que isso não se faz. Se eu não fizer nada, ele pode fazer isso com outras pessoas também."

Anônimo

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